ARTIGO DE REVISÃO
VIEIRA, Cristiane Ramos Ornelas [1]
VIEIRA, Cristiane Ramos Ornelas. Influência do exercício físico para a prevenção ou reabilitação de lombalgia no trabalho: uma revisão de literatura. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 08, Ed. 04, Vol. 04, pp. 80-89. Abril de 2023. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao-fisica/exercicio-fisico, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao-fisica/exercicio-fisico
RESUMO
A lombalgia é uma das causas de afastamento do trabalho, gerando transtornos, longo tratamento para o trabalhador e altos custos para o empregador. Uma musculatura enfraquecida, assim como posturas inadequadas no ambiente laboral, pode favorecer o surgimento de lombalgias. Logo, o objetivo é verificar na literatura científica sobre os efeitos do exercício físico para a redução de incidências de lombalgia no trabalho. Para auxiliar na investigação, foram usadas as seguintes bases de buscas: Scientific Electronic Library Online (SciELO) e google acadêmico. A partir dos descritores, foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: 1) escolha de artigos científicos de livre acesso; 2) publicações entre janeiro de 2012 e março de 2023; 3) pessoas em idade ativa de ambos os sexos; 4) escolha de diferentes tipos de trabalho. Da mesma forma, não foram contemplados artigos que utilizaram indivíduos de nacionalidade estrangeira, estudos realizados com pessoas com deficiência ou condição física pré-existente, aposentados ou idosos. Ao final, 10 trabalhos foram selecionados para subsidiar a presente revisão. Ao final, os resultados mostraram que a maior parte dos trabalhadores com lombalgias possuíam comportamento sedentário e que os exercícios podem atuar de forma profilática e sobre a dor.
Palavras-chave: lombalgia, trabalho, sedentarismo, exercício físico.
1. INTRODUÇÃO
As Lesões Musculoesqueléticas Relacionadas ao Trabalho (LMERT) estão entre as principais causas de afastamento do trabalhador. Em 2017, foram 83,8 mil casos de dorsalgia e lombalgia, 79,5 mil casos de fraturas na perna e tornozelo, e 60,3 mil fraturas ao nível de punho e mão, sendo a dor nas costas a quinta com maior número de auxílios no Brasil (INTO, 2009). Estas enfermidades representam altos custos com auxílio, concedidos pelo INSS.
Como uma das principais causas de afastamento do trabalho, a lombalgia caracteriza-se por dor na região lombar, na parte mais baixa da coluna, também chamada de “lumbago”. Esta pode ser aguda ou crônica e é ocasionada por má postura (INTO, 2009).
Problema relacionado à saúde postural dos trabalhadores é algo antigo e uma preocupação mesmo que indiretamente. Durante a II Guerra Mundial, médicos, antropólogos, psicólogos e engenheiros trabalhavam para solucionar problemas relacionados à manipulação de equipamentos militares complexos, obtendo resultados gratificantes e aproveitados no pós-guerra pelas indústrias, em 1949, como ergonomia (WEERDMEESTER, 2017). A Ergonomia, nesse sentido, veio para reconhecer que doenças do sistema musculoesquelético, além de problemas psicológicos, podem ser oriundos de um projeto ruim e que prover o bem-estar no ambiente de trabalho representa redução de custos e absenteísmos (WEERDMEESTER, 2017).
O ambiente laboral favorece uma série de fatores que atuam direta ou diretamente na qualidade de vida dos indivíduos e nos resultados das atividades do trabalho. Condições inadequadas através de vários problemas ergonômicos proporcionam maior risco de acidentes ou doenças ocupacionais (BERNARDINA; MARZIALE e CARVALHO, 1995).
A presente pesquisa objetiva verificar na literatura científica sobre os efeitos do exercício físico para a redução de incidências de lombalgia no trabalho.
A revisão justifica-se por ser uma temática de relevância, já que os benefícios do exercício físico são bem documentados e a incidência de lombalgia seja alta no ambiente laboral, representando um problema de saúde pública. Dessa forma, correlacionar os benefícios da atividade física à diminuição da incidência de lombalgia torna-se importante.
2. METODOLOGIA
A pesquisa trata-se de uma revisão de literatura. A busca foi realizada pelo google acadêmico, direcionado para as seguintes bases de busca: Scielo e no scholar google, através dos seguintes descritores: lombalgia; trabalho; sedentarismo; exercício físico; junto aos operadores booleanos “E”.
A partir dos descritores, foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: 1) escolha de artigos científicos de livre acesso; 2) publicações entre janeiro de 2012 e março de 2023; 3) pessoas em idade ativa de ambos os sexos; 4) escolha de diferentes tipos de trabalho. Da mesma forma, não foram contemplados artigos que utilizaram indivíduos de nacionalidade estrangeira, com pessoas com deficiência ou condição física pré-existente, aposentados ou idosos. Ao final, 10 trabalhos foram selecionados para subsidiar a presente revisão.
3. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A coluna lombar é a responsável por sustentar a maior parte do peso do corpo, além de cargas externas como qualquer peso levantado. Além disso, relaciona-se com o alinhamento da coluna, posicionamento da pélvis e os movimentos coxofemorais (JESUS e MARINHO, 2006).
No ambiente de trabalho, a preocupação com a postura é classificada como ergonomia, que é uma ciência aplicada às máquinas, equipamentos e tarefas dos trabalhadores, na intenção de melhorar a saúde, segurança e eficiência no trabalho (WEERDMEESTER, 2017), mas entende-se que não seja uma realidade em muitas empresas e, desta forma, a prática de exercícios físicos podem servir como aliada na busca por melhor qualidade de vida do empregado e redução de afastamentos, representando em redução de custos para o empregador.
O exercício físico mostra-se eficiente, pois além de fortalecer a musculatura em torno da região lombar, promove mudanças de hábitos, gera respostas anti-inflamatórias, melhora a qualidade do sono, peso, entre outros fatores associados à dor lombar.
Martins (2022), lista os principais benefícios dos exercícios físicos:
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- Redução da tendência à depressão;
- Aumento da sensação de energia não somente para o trabalho, mas também para aproveitar o tempo livre;
- Auxílio na realização das atividades diárias, eliminando o cansaço e aumentando, assim, a produtividade;
- Ajuda a dormir e a repousar melhor;
- Melhora da autoimagem;
- Melhora a circulação do sangue e mantém ossos e articulações saudáveis;
- Ajuda a controlar o peso;
- Aumenta a disposição no dia a dia;
- Promove bem-estar físico e mental.
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Desta forma, os exercícios são recomendados, possuem efeito benéfico e até profilático para lombalgia, já que atuam sobre os fatores de risco e fortalecem a região. Seguindo os critérios de escolha, foram selecionados 10 artigos para a presente revisão. Para efeitos de organização, os dados foram organizados em quadros.
Quadro 1. Descrição Dos Artigos Escolhidos.
ART. | AMOSTRA | ÁREA DE ATUAÇÃO | RELAÇÃO TRABALHO COM LOMBALGIA | ESCOLARIDADE | AUTOR |
1 | 50 AMBOS OS SEXOS |
* IDADE ATIVA, MAS TRABALHO NÃO FOI MENCIONADO |
*FORTE CORRELAÇÃO ENTRE O TEMPO NO TRABALHO. *46% APRESENTAVAM INCAPACIDADE FUNCIONAL PELA LOMBALGIA. *PREVALÊNCIA MAIOR EM MULHERES. |
* 72% EDUCAÇÃO BÁSICA COMPLETA OU INCOMPLETA *42%ENSINO FUNDAMENTAL INCOMPLETO |
DASSI, M., KORB, A. |
2 | 273 AMBOS OS SEXOS |
*TRABALHADORES DE EMPRESA AGROPECUÁRIA DE DIFERENTES SETORES |
*59.1% APRESENTAVAM LOMBALGIA. *MAIOR NO SEXO FEMININO 73,2%. * ACOMETIMENTO MAIOR ENSINO MÉDIO INCOMPLETO 72,7%. *TEMPO DE TRABALHO NA FUNÇÃO NÃO MOSTROU DIFERENÇA SIGNIFICATIVA. |
*TODOS OS NÍVEIS DE ESCOLARIDADE |
HAEFFNER, R., SARQUIS, L.M.M, HAAS, G.F.S., HECK, R. M., JARDIM, V.M.R. |
3 | 81 AMBOS OS SEXOS |
* ENFERMEIROS, TÉCNICOS E AUXILIARES DE ENFERMAGEM | *CONDIÇÕES DE TRABALHO COMO FATOR PRINCIPAL. *71,6 % COM LOMBALGIA E DESTES, 98,3% COM INCAPACIDADE LEVE E 1,7% MODERADA *66,7% ATUAVAM NA PRESTAÇÃO DE CUIDADOS. |
*TODOS OS NÍVEIS DE ESCOLARIDADE |
RIBEIRO, C. R., MENEGUCI, J.G., APARECIDA, C. |
4 | 56 AMBOS OS SEXOS |
* ENFERMEIROS, TÉCNICOS E AUXILIARES DE ENFERMAGEM | *76,8% REALIZAM 42h SEMANAIS DE TRABALHO E 23,2 % FAZIAM JORNADA DUPLA 74/84 HORAS SEMANAIS. | * APENAS DOIS COM SUPERIOR |
MASSUDA, K.C., MUZILI, N.A., LIMA, D.F., TACIRO, C., JÚNIOR, S.A.O., MARTINEZ, P.F. |
5 | 106 HOMENS |
*MARICULTURA E PESCA | *19,8% SEM DOR, 12,3% DOR LEVE, 25,4% COM DOR MODERADA, 30,2% COM DOR SEVERA, 11,4% DOR MUITO SEVERA, 0,96% DOR MÁXIMA. *66% DOS INDIVÍDUOS NÃO APRESENTAVAM DOR E O RESTANTE ENTRE DOR LEVE E MÁXIMA. * ALTA RELAÇÃO DE DOR RELACIONADA A IDADE, TEMPO DE SERVIÇO, TEMPO TRONCO FLEXIONADO. * HÁBITOS DE VIDA FOI LEVADO EM CONSIDERAÇÃO, MAS FATOR RELEVANTE FOI IDADE E TEMPO DE SERVIÇO. |
* BAIXA ESCOLARIADADE E ANALFABETISMO |
MAGNO, J.R. R |
6 | 80 HOMENS | *MOTORISTAS DE CAMINHÃO | * SATISFAÇÃO COM O TRABALHO. *8,22% FAZEM TRATAMENTO PARA DOR *42,46% RELATAM ESTAREM BEM FISICAMENTE *14 MOTORISTAS UTILIZAM MEDICAMENTO PARA DOR E 12,33% NÃO OBTIVERAM MELHORA. *21 MOTORISTAS APRESENTARAM DOR LOMBAR, SENDO A MAIOR PARTE, DOR LEVE. |
*NÃO MENCIONADO | FRATTI, S.R., SOUZA, D.A., VENDRAME, E.F., GRUSKA, V.M. |
7 | 624 HOMENS |
* TRABALHADORES DE LIMPEZA URBANA | *COR, ESTADO CIVIL, FILHOS, ESCOLARIDADE E TEMPO NO TRABALHO FORAM LEVADOS EM CONSIDERAÇÃO, ALÉM DOS HÁBITOS DE SAÚDE. * MÉDIA DE HORAS SEMANAIS 54,8 HORAS TRABALHADAS * ÍNDICE DE DOR MAIOR PARA OS COLETORES DE LIXO DO QUE OS MOTORISTAS. *45,5% APRESENTARAM DOR LOMBAR E 37,0% DESCONFORTO. *62,8% TRABALHARAM COM DOR NOS ÚLTIMOS 7 DIAS NO PERÍODO PESQUISADO. |
*BAIXO NÍVEL DE ESCOLARIDADE |
PATARO, S.M.S., FERNANDES, R.C.P. |
8 | 200 MULHERES |
*COSTUREIRA | *MUITAS HORAS EXTRAS DE TRABALHO. * 61% DOR LOMBAR. * MUITAS AFIRMARAM DUPLA OU TRIPLA JORNADA DE TRABALHO *75,2% PROCURARAM AUXÍLIO MÉDICO PARA DOR LOMBAR NOS ÚLTIMOS 12 MESES NO PERÍODO AVALIADO. * NÚMERO DE AFASTAMENTOS PEQUENO. * A QUESTÃO SOCIAL FOI LEVADA EM CONTA, REVELANDO ISOLAMENTO A ASSOCIANDO AO STRESS. |
*NÃO MENCIONADO | MAYWORM, S. H., PEREIRA, J.S. e SILVA, M.A.G. |
9 | 29 MULHERES E 1 HOMEM |
*CUIDADORES DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM PARALISIA CEREBRAL |
* 80% APRESENTARAM ALGUM GRAU DE LOMBALGIA. *6 NÃO APRESENTAVAM LOMBALGIA. * A HEREDITARIEDADE FOI LEVADA EM CONSIDERAÇÃO, MAS NÃO APRESENTOU RELEVÂNCIA ESTATÍSTICA. |
* NÃO MENCIONADO | *QUEIROZ, D., BRITO, C., MAGALHÃES M., PEREIRA, E., PERES, T. |
10 | 240 DE AMBOS OS SEXOS (98% HOMENS) |
*TAXISTAS | *111 MOTORISTAS COM DOR. *10 ANOS PELO MENOS DE TRABALHO E 5 DIAS OU MAIS DIAS POR SEMANA. *92,08% TÊM SATISFAÇÃO COM O TRABALHO. 87,5% CARGA DE 50h SEMANAIS DE TRABALHO. 56,66% RELATAM CANSAÇO FÍSICO E 40,83% CANSAÇO MENTAL. *37,83% RELATARAM HOSPITALIZAÇÃO DEVIDO A LOMBALGIA, 38,73% SENTEM DOR TODO DIA, APENAS 10,81% PROCURARAM O MÉDICO. |
*58,3 APRESENTAVAM GRAU MÉDIO DE ESCOLARIDADE |
*SOUSA, G. B. |
Fonte: Elaborada pelo autor, 2023.
Quadro 2. Atividade Física X Dor Lombar.
ART | POPULAÇÃO | CONDIÇÃO FÍSICA |
1 | * IDADE ATIVA, MAS TRABALHO NÃO FOI MENCIONADO |
*16 PESSOAS OU 32 % APRESENTAVAM PESO NORMAL PARA A IDADE *68 % ESTAVAM ACIMA DO PESO, SENDO 25 PRÉ OBESOS, 8 COM OBESIDADE GRAU I E 1 COM OBESIDADE GRAU II *20 PESSOAS (40%) REALIZAVAM ATIVIDADE FÍSICA E 30 (60%) SÃO SEDENTÁRIAS. *DENTRE AS ATIVIDADES MENCIONADAS: CAMINHADA, PILATES, HIDROGINÁSTICA E MUSCULAÇÃO |
2 | *TRABALHADORES DE EMPRESA AGROPECUÁRIA DE DIFERENTES SETORES |
*66,6% HOMENS ACIMA DO PESO *MAIOR INCIDÊNCIA DE DOR EM PESSOAS COM IMC NORMAL OU ABAIXO DO PESO |
3 | * ENFERMEIROS, TÉCNICOS E AUXILIARES DE ENFERMAGEM | * TINHAM A POSSIBILIDADE DE FAZEREM GINÁSTICA LABORAL, MAS APENAS 35,7 % PARTICIPAVAM *LEVADO EM CONTA HÁBITOS DE SAÚDE (TABACO, ÁLCOOL E HORAS DE SONO) *62,1% PESSOAS COM LOMBALGIA ERAM INSUFICIENTEMENTE ATIVOS *FOI VERIFICADA A ASSOCIAÇÃO ENTRE LOMBALGIA E COMPORTAMENTO SEDENTÁRIO 34,5% * MAIOR NÍVEL DE DOR EM MULHERES E SEDENTÁRIAS |
4 | * ENFERMEIROS, TÉCNICOS E AUXILIARES DE ENFERMAGEM | *2 GRUPOS: INSUFICIENTEMENTE ATIVOS(IA) (27) E SUFICIENTEMENTE ATIVOS(SA) (29) – NENHUM COMO MUITO ATIVO. *SEM DIFERENÇA SIGNIFICATIVA PARA IMC * GRUPO (IS) COM MAIOR INCIDÊNCIA DE LOMBALGIA COM DOR E INCAPACIDADE E PARA GRUPO (AS) NÃO HOUVE DIFERENÇA PARA RELATO DE LOMBALGIA *GRUPO (SA) CONSEGUIU SUPERAR (IA) NO TESTE DE ABDOMINAL, MAS AMBOS FORAM ABAIXO DA MÉDIA NO TESTE DE FLEXIBILIDADE. |
5 | *MARICULTURA E PESCA | *CONDIÇÃO FÍSICA NÃO FOI LEVADA EM CONTA NO ESTUDO |
6 | *MOTORISTAS DE CAMINHÃO | *CONDIÇÃO FÍSICA NÃO FOI LEVADA EM CONTA NO ESTUDO |
7 | * TRABALHADORES DE LIMPEZA URBANA | *51,8% COM O IMC NORMAL |
8 | *COSTUREIRA | *61,5% SEDENTÁRIAS 38,5 REALIZAM ATIVIDADE FÍSICA, SENDO 14% 5X NA SEMANA *CONSIDERAM A CAMINHADA PARA O TRABALHO COMO ATIVIDADE FÍSICA * O ESTUDO IDENTIFICOU BAIXA PREVALÊNCIA DE DOR LOMBAR PARA QUEM DIZIA PRATICAR ATIVIDADE FÍSICA |
9 | *CUIDADORES DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM PARALISIA CEREBRAL |
*28 SEDENTÁRIOS E 2 ATIVOS *RESSALTA A LIGAÇÃO DO SEDENTARISMO COM A LOMBALGIA |
10 | *TAXISTAS | *67,9 SEDENTÁRIOS |
Fonte: Elaborada Pelo Autor, 2023.
Lombalgia refere-se a dor na região lombar de multicausalidade de fatores de risco, que pode ser leve ou intensa, de forma prolongada e de 30 a 60% dos casos estão relacionados ao trabalho (BRIGANÓ e MACEDO, 2005).
Nos estudos nos quais a amostra foi realizada em ambos os sexos, percebe-se que a incidência de dor lombar é maior no sexo feminino. Outro fator mencionado foram as longas jornadas de trabalho em posições não ergonômicas, favorecendo o aparecimento de dores. Este fator correlaciona-se com o nível de escolaridade já que, para complemento de renda, os trabalhadores precisam exercer duplas e até triplas jornadas.
A função exercida também é um fator de risco para lombalgia. A presente pesquisa procurou selecionar artigos que pudessem analisar diferentes ambientes de trabalho. As atividades que mais se destacaram para dor limitante são: as exercidas na posição sentada por longos períodos, as que exijam flexão de tronco e as que exigem manuseio de objetos pesados. A partir da literatura, por exemplo, para executar atividades laborais na posição sentada é importante adequar o mobiliário às condições antropométricas do trabalhador, tais como: altura, profundidade do assento, encosto e braços da cadeira (BERNARDINA; MARZIALE e CARVALHO, 1995). Corroborando os resultados, um outro estudo buscou analisar 220 estudantes de medicina, jovens, de ambos os sexos, ativos e sedentários e que permaneciam entre 7 e 10 horas sentados, estudando. Desses, 75,9% eram ativos, 65% eram mulheres. Os resultados mostraram a prevalência de dor maior para o sexo feminino, para o grupo sedentário e para os que permaneciam em posição sentada por mais de 7 horas (ELOI; QUEMELO e SOUZA, 2022). Fatores ambientais, como calor excessivo e ambiente estressante, também foram considerados como fatores de risco. Por outro lado, pessoas que estão satisfeitas com o trabalho, apesar de serem exercidas em posturas de risco, possuem poucas queixas sobre dores incapacitantes (1 e 10) ou queixas sobre o trabalho.
Fatores hereditários foram considerados em (9), mas não tiveram relevância estatística para causa de dor lombar.
Para a revisão, foram selecionados indivíduos em idade funcional. Parece que a idade é um fator importante para lombalgia, devido ao processo degenerativo da coluna inerente ao envelhecimento, porém é um fator que não foi considerado para o estudo.
Apenas dois artigos (5 e 6) não relacionaram o sedentarismo como fator de risco para lombalgia. Fator de risco importante para dor. Cerca de 60% da população brasileira é sedentária. Um estudo mostra que indivíduos com lombalgia que procuraram auxílio médico, 93,7% eram sedentários (FERNANDES et al., 2009).
A partir da análise dos dados, viu-se que pessoas ativas são menos afetadas com dor lombar. Um estudo buscou avaliar um grupo de 23 mulheres, divididas em 3 grupos (sedentário, insuficientemente ativo – 2x por semana e ativos) e, os resultados mostraram que o grupo ativo apresentou melhores resultados quanto à queixa diária, melhor postura e melhor mobilidade de coluna quando comparados ao grupo insuficientemente ativo e sedentário (JESUS e MARINHO, 2006).
Os estudos (2 e 7) destacam que indivíduos com IMC normal podem ser acometidos por dor lombar.
A fraqueza muscular é um dos fatores envolvidos na “síndrome da dor lombar”, principalmente na região abdominal e a baixa flexibilidade articular no dorso e nos membros inferiores (KATCH, 1996 apud JESUS e MARINHO, 2006). Os exercícios de força e flexibilidade são comumente prescritos para prevenir e reabilitar um indivíduo com esta patologia (JESUS e MARINHO, 2006).
Os achados nos estudos mostram que pessoas sedentárias possuem maior incidência para lombalgia e que grande parte dos trabalhadores não possuem acesso. Para os que têm acesso às atividades físicas, a aderência ainda é muito reduzida. Os motivos da baixa adesão não foram mencionados, mas sugere-se que a jornada de trabalho seja fator importante, assim como o entendimento da importância do exercício para melhoria da qualidade de vida.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A lombalgia, como uma das causas de afastamento do trabalho, mostra-se como uma doença multifatorial, pois é difícil determinar a causa. Dentre os motivos mais citados, pode-se destacar: sedentarismo, sono, sobrecarga articular, idade, sexo e postura inadequada.
O ambiente laboral o qual o indivíduo está exposto deve ser priorizado, pois com maior ou menor incidência, em diferentes locais, os indivíduos são acometidos por dor lombar.
A atividade física pode ser uma ferramenta, pois alguns estudos mostram resultados positivos com o uso dessa ferramenta.
REFERÊNCIAS
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BRIGANÓ, J. U.; MACEDO, C. S. G. Análise da mobilidade lombar e influência da terapia manual e cinesioterapia na lombalgia. Semina: Ciências Biológicas e da Saúde, vol. 26, n. 02, 2005. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/seminabio/article/view/3555. Acesso em: 20 abr. 2023.
DASSI, M.; KORB, A. Capacidade funcional de indivíduos com lombalgia em uma unidade básica de saúde de Getúlio Vargas. Revista Perspectiva, v. 46, n. 169, 2021. Disponível em: http://ojs.uricer.edu.br/ojs/index.php/perspectiva/article/view/125. Acesso em: 14 abr. 2023.
ELOI, D. R. L.; QUEMELO, P. R. V.; SOUZA, M. N. A. Influence of physical activity and time in the sitting position on the condition of low back pain among university students. Columna, vol. 21, n. 01, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/coluna/a/HZJTBWbSncqszY83Pw9tGLj/?lang=en. Acesso em: 20 abr. 2023.
FRATTI, S. R. et al. Prevalência e fatores condicionantes de lombalgia em motoristas de caminhão da cidade de Cianorte-PR. Revista Uningá, Maringá, v. 56, n. 1, p. 26-37, jan./mar. 2019. Disponível em: https://revista.uninga.br/uninga/article/view/2617/1879. Acesso em: 14 abr. 2023.
FERNANDES, R. C. P.; CARVALHO, F. M.; ASSUNÇÃO, A. A.; NETO, A. M. S. Interactions between physical and psychosocial demands of work associated to low back pain. Rev. Saúde Pública, vol. 43, n. 02, 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rsp/a/Tk5qbQ8YMP5QJn7JKWnQsgb/?lang=en. Acesso em: 20 abr. 2023.
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WEERDMEESTER, J. D. B. Ergonomia prática. 3ª Ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2017.
[1] Pós-graduada lato sensu em fisiologia do Exercício- Prescrição do exercício, Pós- graduada em Biomecânica da Atividade física na saúde e reabilitação, Graduada em Bacharelado em Educação Física e Graduada em Licenciatura em Educação Física. ORCID: 0000-0001-7866-8500. Currículo Lattes: https://lattes.cnpq.br/7453187270666154
Enviado: 03 de Abril, 2023.
Aprovado: 21 de Abril, 2023.