REVISÃO INTEGRATIVA
ROLY, Damião Lucas Viana [1], FONSÊCA, Maria Raquel Crispim Paschoal da [2], ASTOLPHI, Joana D’arc Vieira Couto [3], COSTA, Maria Alice Ribeiro [4], FILGUEIRAS, Thiago Ferreira [5], FERREIRA, Vinicius Henrique Alves [6], DECKER, Jordana Medeiros Lira [7]
ROLY, Damião Lucas Viana et al. Desnutrição e perda dentária em idosos: desafios e implicações para a saúde pública. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 10, Ed. 04, Vol. 01, pp. 111-125. Abril de 2025. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/biologia/desnutricao-e-perda-dentaria, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/biologia/desnutricao-e-perda-dentaria
A desnutrição é um fator significativo em idosos que corrobora com a perda dentária e a qualidade de vida. Este estudo revisa a literatura sobre a relação entre edentulismo e desnutrição na terceira idade, destacando os desafios para a saúde pública. Foi realizada uma revisão integrativa em bases de dados como PubMed e Scielo, abrangendo artigos publicados entre 2012 e 2023. Os resultados indicam que a perda dentária compromete a capacidade mastigatória, influenciando negativamente a ingestão nutricional e levando a um ciclo vicioso de saúde bucal precária e desnutrição. Conclui-se que é fundamental implementar políticas públicas de saúde bucal voltadas para a prevenção e tratamento do edentulismo em idosos, visando melhorar sua qualidade de vida.
Palavras-chave: Desnutrição, Perda Dentária, Idosos, Saúde Pública, Odontologia.
A atividade mastigatória desempenha um papel fundamental na homeostasia de todo o organismo, contribuindo para o equilíbrio do corpo e qualidade de vida dos indivíduos. A saúde bucal, especialmente a condição dos dentes, é essencial para o adequado processo de mastigação, que está diretamente relacionado à qualidade nutricional e absorção de nutrientes. A perda da capacidade mastigatória, ocasionada por problemas odontológicos, pode dificultar o consumo de diversos alimentos, o que impacta a saúde geral do paciente (Vasconcelos et al., 2012).
A ausência dentária continua sendo um assunto de grande importância na saúde pública. Questões sociais e o acesso limitado a tratamentos odontológicos impactam significativamente a decisão de remover dentes como forma de aliviar desconfortos, especialmente entre indivíduos de classes socioeconômicas mais vulneráveis. No entanto, é importante destacar que, embora a exodontia possa ser percebida como uma prática relacionada às condições socioeconômicas, muitas vezes a indicação para extração depende de um diagnóstico clínico mais amplo, que nem sempre está vinculado ao poder aquisitivo do paciente (Emami et al., 2013). Portanto, associar o edentulismo apenas às questões sociais pode ser uma simplificação do problema.
A condição bucal está diretamente ligada ao bem-estar geral das pessoas, mas pode ser frequentemente deixada de lado quando há perda parcial ou total dos dentes. A perda de dentes não deve ser encarada como uma condição natural do envelhecimento, mas como uma manifestação de problemas de saúde que requerem atenção especializada. A cárie dentária, uma das principais causas de perda dentária, está associada a padrões alimentares inadequados e ao consumo excessivo de açúcar, disponível principalmente em bebidas adoçadas (Teixeira et al., 2020).
A nutrição e a saúde bucal se inter-relacionam de maneira significativa, impactando mutuamente a saúde do indivíduo. A ausência de dentes compromete a capacidade mastigatória e pode levar a um declínio na qualidade nutricional, resultando em um ciclo vicioso que agrava a saúde bucal e geral do paciente. Nesse contexto, torna-se essencial reconhecer e corrigir carências nutricionais que possam favorecer o surgimento de doenças bucais. Além disso, é crucial fornecer orientações aos indivíduos com perda dentária parcial ou total, destacando a necessidade de ajustar a alimentação de acordo com suas condições orais e capacidade de mastigação (Carvalho et al., 2020).
Além disso, algumas doenças orais, como as doenças periodontais, podem ter como fator contribuinte a carência nutricional, afetando gengivas e tecidos de sustentação dos dentes. A má higiene oral e a deficiência de nutrientes são fatores que aumentam o risco de infecções periodontais, edentulismo e halitose (Martinez, 2022). O açúcar, por exemplo, é um dos principais agentes cariogênicos, pois reduz o pH bucal e causa a desmineralização da superfície dentária, aumentando a probabilidade de desenvolvimento de cáries (Felix et al., 2021). O presente estudo tem como objetivo discutir a relação entre a desnutrição e a perda dentária na terceira idade, ressaltando que a perda dentária não ocorre diretamente devido à qualidade nutricional, mas sim pela presença de doenças bucais, como a cárie e as periodontopatias, que são exacerbadas por hábitos alimentares inadequados e pela falta de cuidados bucais.
Trata-se de uma revisão bibliográfica integrativa sobre trabalhos publicados utilizando as palavras indexadoras: perda dentária, cárie dentária, má alimentação em idosos e odontologia preventiva, pesquisadas no banco de dados do PubMed, Scielo e Google Acadêmico, em periódicos nacionais e internacionais entre os meses de dezembro de 2023 a março de 2024. Esse tipo de estudo é caracterizado por proporcionar uma síntese de conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática.
Foram estabelecidos como critérios de inclusão: artigos de revisões sistemáticas, ensaios clínicos, revisões de literatura e estudos qualitativos, publicados no período de 2012 a 2023. Foram excluídos estudos pagos e trabalhos que não tiveram seus textos disponíveis na íntegra. Foram selecionados para leitura 30 artigos, mas após aplicar os critérios de inclusão e exclusão, foram utilizados 24 artigos para compor o presente trabalho. O fluxograma (figura 1) a seguir lustra a seleção de artigos.
Figura 1 – Seleção dos artigos utilizados para a pesquisa
Quadro 1 – Apresentação dos artigos selecionados:
Autores | Ano | Revista Publicada | Metodologia | Objetivos |
Alzahrani, S.H.; Alamri, S.H. | 2017 | BMC Geriatrics | Estudo transversal | Prevalência de desnutrição e fatores associados entre idosos hospitalizados |
Bakker, M.H.; et al. | 2018 | Nutrients | Estudo transversal | Associação entre edentulismo, problemas de saúde oral e desnutrição |
Carvalho, G.A.O.; et al. | 2020 | Research, Society and Development | Revisão de literatura | Abordagem odontológica e alterações bucais em idosos |
Chagas, A.M.; Rocha, E.D. | 2012 | Revista Brasileira de Odontologia | Revisão de literatura | Aspectos fisiológicos do envelhecimento e a contribuição da odontologia |
Do, K.Y.; Moon, S. | 2020 | Int Journal Environ Res Public Health | Estudo transversal | Relação entre desconforto oral e qualidade de vida em idosos coreanos |
Emami, E.; et al. | 2013 | International Journal of Dentistry | Estudo de revisão | Impacto do edentulismo na saúde oral e geral |
Felix, L.C.A.; et al. | 2021 | Research, Society and Development | Estudo transversal | Relação entre alimentos cariogênicos e cárie em crianças |
Freitas, Y. N. L. D.; Pinheiro, N. C. G.; Lima, K. C. | 2022 | Cadernos Saúde Coletiva | Estudo de coorte | Avaliação da saúde bucal em idosos não institucionalizados |
Gaewkhiew, P.; Sabbah, W.; Bernabé, E. | 2019 | Gerodontology | Estudo transversal | Dentição funcional, ingestão alimentar e estado nutricional em idosos tailandeses |
Konoshi, M.; Verdonschot, R.G.; Kakimoto, N. | 2020 | Oral Radiology | Estudo observacional | Investigação dos fatores de perda dentária em idosos |
Kujik, M.V.; et al. | 2020 | Oral Dis. | Estudo observacional | Estado de dentição e estado nutricional de idosos na Nova Zelândia |
Lee, S.; Sabbah, W. | 2018 | Geriatr Gerontol Int. | Estudo transversal | Associação entre número de dentes e fragilidade musculoesquelética em idosos |
Lopes, E.N.R.; et al. | 2021 | Research, Society and Development | Estudo transversal | Relação entre perda dentária e aspectos nutricionais na odontogeriatria |
Maia, L.C.; et al. | 2020 | Rev. Bioét. (Impr.) | Revisão de literatura | Edentulismo em idosos: envelhecimento ou desigualdade social? |
Martinez, G. L. | 2022 | Editora Dialética | Estudo de revisão | Impacto dos ômegas 3 e 6 na periodontia |
Oliveira, E.J.P; Alves, L. C.; Duarte, Y. A. O | 2020 | Caderno de Saúde Pública | Estudo observacional | Impacto negativo da saúde bucal na qualidade de vida de idosos |
Peres, M.A.; et al. | 2019 | Lancet | Estudo de revisão | Doenças orais como um desafio global de saúde pública |
Petry, J.; Lopes, A.C.; Cassol, K. | 2019 | CoDAS | Estudo transversal | Autopercepção das condições alimentares de idosos usuários de prótese dentária |
Silva, E.T.; Oliveira, R.T.; Leles, C.R. | 2015 | Tempus, Actas de Saúde Colet | Estudo transversal | Epidemiologia do edentulismo no Brasil |
Skósnickiewicz-Malinowska, K.; et al. | 2018 | Medicine (Baltimore) | Estudo transversal | Condição de saúde bucal e ocorrência de depressão em idosos |
Teixeira, A.D.; et al. | 2018 | Revista da Faculdade de Odontologia de Por | Estudo transversal | Conhecimento sobre hábitos saudáveis de higiene bucal e dieta na infância |
Vasconcelos, L.C.A.; et al. | 2012 | Cadernos de Saúde Pública | Estudo observacional | Autopercepção da saúde bucal de idosos no nordeste brasileiro |
Watson, S.; et al. | 2019 | Int Journal Behav Nutr Phys Act. | Estudo transversal | Impacto do estado dentário na ingestão de alimentos e nutrientes em idosos |
Fonte: Dados da pesquisa, 2025.
De acordo com os dados de 2022, a população com 65 anos ou mais no Brasil alcançou 22.169.101 indivíduos, representando 10,9% do total da população. Esse número representa um aumento significativo de 57,4% em comparação com 2010, quando a população idosa somava 14.081.477 pessoas, equivalendo a 7,4% do total. Os dados foram divulgados pelos resultados do Censo Demográfico de 2022, que apresentou detalhes sobre a população brasileira por idade e sexo (IBGE, 2024). A figura 2 ilustra a pirâmide etária do Brasil.
Figura 2 – População Residente no Brasil (%)
O edentulismo associado com uma baixa qualidade de vida é uma preocupação crescente da saúde pública, pois afeta a capacidade de indivíduos mais velhos desfrutarem plenamente da sua vida cotidiana, influenciando diretamente em aspectos nutricionais, psicológicos, socioeconômicos bem como em vários outros que compõem seu pleno estado de saúde integral, pois esta condição não apenas afeta a capacidade de mastigação e fala, mas também tem um impacto profundo na qualidade de vida (Petry; Lopes; Cassol, 2019).
O estudo de Oliveira, Alves e Duarte (2020), realizado com dados da cidade de São Paulo, revelou que a saúde bucal exerce impacto significativo na expectativa de vida de idosos, especialmente no que se refere à qualidade de vida. Utilizando o método de Sullivan, os autores estimaram o número de anos vividos com impacto físico negativo da saúde bucal (POHIQoL) e observaram que, entre 2000 e 2010, houve um aumento tanto na expectativa de vida total quanto na proporção de anos vividos com comprometimento bucal. Além disso, identificaram desigualdades marcantes: mulheres e indivíduos com menor escolaridade tendem a viver mais anos com esse tipo de impacto. O trabalho destaca a importância de políticas públicas que ampliem o acesso à saúde bucal de forma equitativa, considerando que, mesmo com avanços na cobertura dos serviços, os grupos mais vulneráveis continuam mais afetados (Oliveira; Alves; Duarte, 2020).
Com a ausência de elementos dentários pode ocorrer distúrbios nutricionais, desidratação, alteração de paladar, recusa de alimentos, perda de autoestima, problemas psicossociais e até mesmo a problemas de saúde sistêmica (Skóskiewicz- Malinowska et al., 2018). A prevalência de perda dentária nos indivíduos investigados para o edentulismo no Projeto SB Brasil 2010 (n=22.440) foi de 64,8% (IC 95%= 63,1-66,5).
Maia et al. (2020) relataram que a sociedade permanece associando o idoso desdentado como natural, embora seja fruto histórico de cáries e doenças periodontais ao longo da vida sem acesso a tratamentos, sendo comum a percepção negativa atribuída à saúde. Contudo, a análise da perda dentária seja ponto comum entre os autores, no sentido de serem implementados meios para suprir a necessidade de próteses, reparos e manutenção das mesmas. Essa visão de análise se estende para os tecidos moles, a fim de diagnosticar precocemente e prevenir lesões fúngicas, virais, e lesões pré-malignas e cancerígenas, corroborando para a qualidade e a longevidade de vida do idoso.
Meira, et al. (2018) destacam que o aumento da expectativa de vida não está necessariamente acompanhado de saúde, pois o processo de envelhecimento causa várias alterações no organismo. Entre elas, o uso de medicamentos, comum entre os idosos, pode resultar em alterações sistêmicas e efeitos adversos na cavidade oral. Além disso, diversas patologias bucais em idosos estão associadas a mudanças relacionadas ao envelhecimento, como alterações metabólicas, fatores nutricionais, uso de próteses, hábitos psicopatológicos, e o consumo de álcool e tabaco.
O envelhecimento está intimamente relacionado à condição dos tecidos bucais, exercendo um impacto significativo na saúde geral, o que tem motivado estudos aprofundados sobre o tema. A saúde bucal desempenha um papel essencial na autoestima e na qualidade de vida dos idosos, uma vez que influencia a aparência, as interações sociais e os relacionamentos interpessoais. A ausência de dentes, por exemplo, compromete tanto a saúde bucal quanto a saúde geral, afetando a alimentação e reduzindo a qualidade de vida (Do; Moon, 2020).
A saliva exerce funções essenciais, como proteger e lubrificar a mucosa oral, além de prevenir a desmineralização e favorecer a remineralização dentária. Modificações na função das glândulas salivares podem levar à xerostomia e à diminuição na produção de amilase, o que impacta negativamente os processos de digestão e deglutição. Segundo Lopes et al. (2021), essas mudanças podem resultar em dietas inadequadas, má nutrição e aumento de bactérias, contribuindo para doenças bucais, como gengivite e cáries, além de dificultar o uso de próteses dentárias.
A perda dentária relacionada à periodontite compromete a eficiência mastigatória, impactando negativamente as funções do sistema estomatognático e influenciando escolhas alimentares inadequadas. A mastigação é essencial para uma nutrição equilibrada, e a ausência de dentes pode levar à preferência por alimentos de menor valor nutritivo e dificultar o processo de deglutição, contribuindo para quadros de desnutrição. Apesar de a perda dentária não ser isoladamente um fator determinante para o aumento do risco de fragilidade, a ausência de tratamentos reabilitadores tende a resultar em dietas carentes de fibras e proteínas, enquanto alimentos mais macios e ricos em carboidratos e gorduras se tornam predominantes na alimentação.
Uma pesquisa conduzida por Bakker et al. (2018) analisou a relação entre a ausência de dentes e a saúde nutricional em idosos com mais de 75 anos, residentes em comunidades. Com uma amostra de 1325 pessoas, 51% não possuíam dentes, 38,8% tinham alguns dentes naturais, e 10,2% utilizavam próteses sobre implantes. Os achados apontaram que a desnutrição era mais prevalente entre idosos com necessidades complexas de cuidado (10%), seguidos pelos considerados frágeis (4,5%) e robustos (2,9%). Embora a análise univariada tenha identificado uma relação entre problemas de mastigação e desnutrição, a análise multivariada não confirmou tal associação direta entre o edentulismo e desnutrição, embora tenha destacado a influência da qualidade de vida no estado nutricional.
Em outro estudo, Gaewkhiew, Sabbah e Bernabé (2019) investigaram a relação entre a dentição funcional e o estado nutricional em idosos tailandeses. Com 788 participantes acima de 60 anos, os resultados indicaram que a presença de uma dentição funcional estava associada a um menor risco de baixo peso, mas não influenciava significativamente o risco de sobrepeso ou obesidade. Idosos com mais de 10 unidades dentárias funcionais apresentaram maior consumo de fibras e vitamina B1, o que contribuiu para a redução do risco de desnutrição.
Watson et al. (2019) examinaram como a condição dentária afeta as escolhas alimentares, o consumo de nutrientes e o estado nutricional de idosos no Reino Unido. O estudo, realizado com 1053 indivíduos acima de 65 anos, evidenciou que aqueles sem dentes ou que usavam próteses relataram dificuldades para consumir alimentos como frutas frescas e nozes, o que resultou em uma menor ingestão de nutrientes essenciais. A pesquisa reforçou a importância de intervenções odontológicas e nutricionais para mitigar os efeitos da saúde oral precária sobre a alimentação e a nutrição.
Já Kujik et al. (2020) avaliaram idosos em instituições de cuidados residenciais na Nova Zelândia, constatando que quase metade dos residentes apresentava risco de desnutrição ou já estava desnutrida. A prevalência era maior entre aqueles com cáries não tratadas e condições clínicas mais debilitadas, apontando a necessidade de atenção integral à saúde bucal nesses contextos.
O comprometimento nutricional tem impactos significativos na saúde dos idosos, reduzindo sua resiliência fisiológica e aumentando os riscos de complicações sistêmicas. Intervenções adequadas podem minimizar esses efeitos, promovendo melhor qualidade de vida e aliviando a carga sobre os sistemas de saúde. Além disso, o acesso a serviços odontológicos eficazes desempenha um papel crucial na promoção da saúde e no bem-estar dos idosos, gerando benefícios tanto individuais quanto coletivos (Freitas; Pinheiro; Lima, 2022).
Estudos epidemiológicos demonstraram que o edentulismo está associado a fatores socioeconômicos, indicando que a perda dentária é um indicador de desigualdade social em várias sociedades (Emami et al., 2013). A perda dentária afeta o funcionamento do sistema mastigatório, impactando diretamente o estado nutricional e cognitivo, o que, por sua vez, resulta em menor atenção à higiene oral, agravada pela falta de autonomia para realizar as atividades diárias (Batista et al., 2021).Vale ressaltar que a desnutrição não é a causa da perda dentária; ao contrário, a falta de dentes e os problemas de saúde bucal associados é que podem contribuir para um quadro de deficiência nutricional (Watson et al., 2019). Gaewkhiew, Sabbah e Bernabé (2019) realizaram um estudo na Tailândia que evidenciou que a manutenção de uma dentição funcional está associada à redução da perda de peso em idosos.
A ausência de dentes, ou edentulismo, tem repercussões significativas para a saúde, afetando tanto a alimentação quanto a nutrição dos indivíduos. Nos idosos, a escolha por dietas de menor qualidade pode ser explicada pela redução da força de mordida e da eficiência mastigatória, fatores que comprometem o processo digestivo (Watson et al., 2019; Teixeira et al., 2020; Carvalho et al., 2020). Além disso, alterações na mastigação podem resultar em deficiências nutricionais. A região Nordeste do Brasil apresenta a maior taxa de edentulismo, e a diminuição do fluxo salivar torna os tecidos bucais mais vulneráveis a problemas patológicos, como dificuldades na formação do bolo alimentar, na fala, no surgimento de cáries e candidíase, além de desconfortos na mastigação e complicações no uso de próteses dentárias (Chagas; Rocha, 2012; Lopes et al., 2021). Dado que a saúde bucal deficiente é um indicativo de fragilidade e que essa fragilidade está relacionada tanto à qualidade de vida quanto à saúde oral em idosos, é crucial considerar essa questão como um problema relevante de saúde pública na área odontológica (Lee; Sabbah, 2018; Peres et al., 2019).
De acordo com Freitas, Pinheiro e Lima (2022), as políticas de saúde devem ir além do enfoque no tratamento de doenças, devendo também abranger a promoção de hábitos saudáveis e medidas preventivas para melhorar a qualidade de vida. Isso inclui incentivar a prática de exercícios físicos regulares, promover uma dieta balanceada, combater o tabagismo, reduzir o consumo de bebidas alcoólicas, enfrentar o sedentarismo e fomentar a interação social.
A desnutrição em idosos, associada à perda dentária, tem impacto significativo na saúde geral e qualidade de vida dessa população. A incapacidade de mastigar de forma eficaz, decorrente do edentulismo, compromete a ingestão nutricional e favorece a escolha de alimentos menos nutritivos, o que pode resultar em um ciclo vicioso de agravamento da saúde bucal e nutricional. Além disso, a relação entre saúde bucal e condições sistêmicas evidencia a necessidade de cuidados específicos, que vão além da simples reabilitação dentária.
É imprescindível a implementação de políticas públicas que integrem a saúde bucal à saúde geral dos idosos, promovendo a prevenção e o tratamento de doenças bucais, como a periodontite, que contribuem para a perda dentária. A atenção à nutrição, aliada a cuidados odontológicos adequados, pode melhorar a qualidade de vida dos idosos, prevenindo a desnutrição e outros agravos relacionados à saúde.
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Os autores utilizaram a Inteligência Artificial Inteligência Artificial ChatGPT-4, versão Scholar 4.0, na plataforma para auxiliar na elaboração e revisão textual do manuscrito, bem como na organização dos dados apresentados. Todas as análises científicas, interpretações e redação original foram realizadas pelos autores de forma autoral, seguindo padrões éticos e acadêmicos.
[1] Graduação em Odontologia e Enfermagem. ORCID: https://orcid.org/0009-0003-6695-4771. Currículo Lattes: https://lattes.cnpq.br/3302447901864373.
[2] Mestranda em Gerontologia. Odontologia Hospitalar e Odontogeriatria. Especialista a nível lato-sensu em Odontologia para Pacientes Especiais. Graduação em odontologia. ORCID: https://orcid.org/0009-0005-0949-9981. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5470128236766337.
[3] Assistente Social. Doutora e Mestra em Geografia -PPGEO/IGESC/ UFU. Especialista a nível lato-sensu nas áreas de: Administração Hospitalar (USC); Política Social e Prática Profissional (FIT); Saúde Pública (ENSP/MG); Desenvolvimento Gerencial de Unidades Básicas de Saúde (UFU); Gestão Hospitalar no SUS(UFU). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4922-1803. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1199835597122558.
[4] Cirurgiã-dentista pela UNIESP – Centro Universitário. ORCID: https://orcid.org/0009-0002-1432-4201. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0842287628302350.
[5] Enfermeiro (URCA). Mestre em Cuidados Paliativos (UPorto). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6807-2655. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0213483226917659.
[6] Mestre Ciências Odontológicas, Especialista a nível lato-sensu em Ortodontia e Reabilitado Oral Docente – Faculdades dos grandes Lagos Unilago. Pós-graduação CEO -ODONTOBEM S J RIO PRETO -SP. Graduação de Odontologia. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3346-0217.
[7] Mestre em Ciências Odontológicas. Especialização lato-sensu em Odontogeriatria – UNIABO – PB (2023). Experiência na Área de Saúde Pública com Ênfase em Pacientes com Necessidades Especiais com Atendimento pelo Centro de Especialidades Odontológicas (CEO) nos Municípios de Caaporã, Alhandra e Campina Grande – Paraíba. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0420-4313. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5618647447458865.
Material recebido: 23 de setembro de 2024.
Material aprovado pelos pares: 07 de outubro de 2024.
Material editado aprovado pelos autores: 04 de abril de 2025.
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