ARTIGO DE REVISÃO
SALES, Elaine de Souza [1], SANTOS, Ayrtton Anacleto Lima dos [2], OLIVEIRA, Paula Hacainy Borges [3]
SALES, Elaine de Souza. SANTOS, Ayrtton Anacleto Lima dos. OLIVEIRA, Paula Hacainy Borges. O impacto do diabetes mellitus no sistema cardiovascular. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 10, Ed. 03, Vol. 01, pp. 47-63. Março de 2025. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/impacto-do-diabetes-mellitus, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/saude/impacto-do-diabetes-mellitus
RESUMO
Introdução: A Diabetes Mellitus é uma doença metabólica e crônica, que tem como característica o alto índice de açúcar (glicose) no sangue, acontece quando o pâncreas deixa de produzir ou de absorver a insulina de forma eficiente. A insulina tem como função principal a regularização da quantidade de glicose que vai para o sangue e esse processo é fundamental para que o organismo tenha um bom funcionamento. Quando o organismo não consegue metabolizar a glicose de forma adequada, o indivíduo fica exposto a desenvolver a diabetes mellitus. Objetivo: Conscientizar sobre a importância que os hábitos de vida diária têm no controle e prevenção da diabetes mellitus e das doenças cardiovasculares. Metodologia: análise e revisão integrativa efetuada nas bases de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e Scientific Eletronic Library Online (SciELO). Resultado e Discussão: Foram selecionados e avaliados de forma minuciosa uma totalidade de 14 artigos, sendo elegíveis para o objetivo da pesquisa 08 artigos da BVS e 06 artigos da SciELO. O conglomerado de pesquisa retrata que vários fatores presentes no diabetes mellitus favorecem para que haja uma maior ocorrência de doenças cardiovasculares, bem como a hiperglicemia, resistência à insulina, aterosclerose, hipertensão arterial sistêmica, insuficiência cardíaca e obesidade. Conclusão: Mudanças no hábito e estilo de vida, acompanhado de uma atenção especial à saúde são fatores relevantes para evitar e controlar a doença, fazendo com que o indivíduo possua uma melhor qualidade de vida.
Palavras-chave: Diabetes Mellitus, Doenças Cardiovasculares, Fatores de risco, Controle Glicêmico, Qualidade de Vida.
1. INTRODUÇÃO
O diabetes mellitus é uma doença crônica que afeta a forma em que o organismo metaboliza a glicose, levando a altos níveis de açúcar no sangue. Se tratando de um prazo de um longo período, essa condição pode causar danos relevantes a vários sistemas do corpo, especialmente ao sistema cardiovascular. A hiperglicemia crônica advinda da diabetes pode comprometer a saúde dos vasos sanguíneos e contribuir para o desenvolvimento de algumas doenças como hipertensão, aterosclerose e insuficiência cardíaca. Este artigo analisa o impacto da diabetes no sistema cardiovascular, examinando os mecanismos envolvidos, as complicações mais comuns e as abordagens preventivas que podem amenizar esses efeitos adversos (Neves e Tomasi, 2023).
A Organização Mundial de Saúde (OMS), classifica o diabetes como uma epidemia mundial. Em 2021, a OMS fez um pacto global que teve como objetivo combater e prevenir a doença, assim como levar tratamento às pessoas que necessitam. A necessidade de tomada de decisões urgentes, se dá devido ao número de pessoas com diabetes ter aumentado de forma quadruplicada dentre os últimos 40 anos e também ao aumento de risco de morte precoce em consequência da doença (OPAS, 2021). Trata-se de uma doença altamente prevalente em nosso meio e é considerada como uma das doenças de mais difícil controle, por ser multifatorial, crônica e sistêmica. Refere-se a um distúrbio metabólico causado pela completa ou parcial deficiência de insulina pelo pâncreas ou diminuição de sua produção, prejudicando assim o metabolismo dos lipídeos, glicídios, proteínas, água, vitaminas e minerais (Nunes e Torres, 2023).
Classifica-se em dois principais tipos: diabetes tipo 1 e diabetes tipo 2, com mecanismos diferenciados entre si, mas ambos elevam os níveis de açúcar (glicose) no sangue. A diabetes mellitus tipo 1 é uma doença autoimune, na qual o sistema imunológico ataca e destrói as células responsáveis pela produção de insulina no pâncreas. Como consequência, há uma deficiência total ou parcial de insulina. Esse tipo de diabetes é um pouco mais delicado, exigindo ainda mais atenção. Nesses casos, exige o uso contínuo de insulina, a fim de deixar os níveis de glicose no sangue sob controle. É comumente diagnosticado em crianças e em jovens (Rossaneis, 2019). Já a diabetes mellitus do tipo 2 está mais associada com à resistência à insulina, ou seja, o corpo ainda produz a insulina, porém as células não conseguem usá-lo de forma adequada. Esse tipo é mais comum em adultos, especialmente em decorrência de fatores como obesidade, sedentarismo e dieta inadequada. O controle e a prevenção da diabetes tipo 2 existe através de mudanças no estilo de vida, assim como: controle alimentar e exercícios físicos. A recomendação para uso de insulina, só se fará necessário somente quando a doença estiver em um estágio mais avançado. Os dois tipos de diabetes, se não tratados adequadamente, podem levar a complicações graves, principalmente no que se diz respeito ao sistema cardiovascular, devido ao aumento prolongado dos níveis de glicose no sangue (Malta et al., 2022a).
Devido ao elevado índice e prevalência da doença na população mundial, o fator de risco para ocorrência de doenças cardiovasculares e o risco de morte, se faz necessário compreender de forma mais aprofundada os fatores pelos quais o diabetes mellitus impacta o sistema cardiovascular. Apesar de existir uma evolução no tratamento e diagnóstico, ainda existe a necessidade de melhor entendimento sobre como o controle glicêmico e outros fatores podem diminuir esses riscos. Diante dessa perspectiva, essa pesquisa tem o intuito de contribuir com a busca de mais informações, mecanismos e estratégias de manejo e prevenção, com o intuito de reduzir a morbidade e a mortalidade associada ao diabetes mellitus. No qual, o objetivo principal é conscientizar sobre a importância que os hábitos de vida diária têm no controle e prevenção da diabetes mellitus e das doenças cardiovasculares.
2. METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa de literatura que consistiu em um levantamento de pesquisas de artigos publicados dentre o período dos últimos seis anos (2019, 2020, 2021, 2022, 2023 e 2024). Os artigos foram pesquisados através da base de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e Scientific Eletronic Library Online (SciELO). As buscas foram efetuadas entre os meses de outubro e novembro de 2024, utilizando os seguintes descritores: diabetes mellitus (diabetes mellitus), doenças cardiovasculares (cardiovascular diseases) e qualidade de vida (quality of life), utilizando o operador booleano (AND). A seleção dos artigos se deu através dos títulos que foram considerados relevantes e tivesse relação com o tema a diabetes mellitus e o sistema cardiovascular.
Foram selecionados para leitura 14 artigos, onde 10 estão em português, 04 estão em inglês, sendo 02 artigos em inglês da base de dados da BVS e 02 artigos em inglês da base de dados da SciELO.
Os artigos selecionados apresentaram conteúdo relevante e eram assuntos correlatos a diabetes mellitus, doenças cardiovasculares, qualidade de vida e fatores de risco. Em relação aos critérios de exclusão foram eliminados os artigos que não tratassem especificamente da temática selecionada, artigos que tinham disponibilizado somente resumos, artigos que não atenderam ao objetivo da pesquisa e a pergunta norteadora para o estudo. Os artigos com temas semelhantes a artigo já selecionado para estudo foram eliminados, por haver duplicidade de informações, como por exemplo: temáticas semelhantes. Aos que permaneceram foram lidos e avaliados com cautela, para melhor síntese do tema.
A pesquisa teve como objetivo analisar o impacto da diabetes mellitus sobre o sistema cardiovascular, assim como estudos que examinam tanto os mecanismos de dano cardiovascular como as estratégias de prevenção e tratamento em pacientes com diabetes.
A análise dos dados foi realizada de forma avaliativa, com a organização dos resultados em temas principais, como: risco de doenças cardiovasculares em pacientes com diabetes, complicações da diabetes mellitus.
3. RESULTADO E DISCUSSÃO
As buscas para elaboração deste artigo foram efetuadas através das bases de dados da BVS e SciELO. Os resultados totais das pesquisas feitas totalizaram em 133 artigos. Foram avaliados de forma minuciosa, alguns foram eliminados por não se enquadrarem no contexto acerca do tema escolhido. Foram selecionados para revisão um total de 40 artigos, 24 foram excluídos por não possuírem uma temática relevante, da mesma forma 2 artigos foram anulados da revisão por serem semelhantes. Assim sendo, tornaram-se elegíveis 14 artigos científicos que atenderam a perspectiva e objetivo da pesquisa. Sendo um total de 08 artigos da base de dados da BVS e 06 artigos da base de dados da SciELO.
Tabela 1. Número de artigos selecionados da base de dados no período de 2019 a 2024.
BASE DE DADOS | ARTIGOS
ENCONTRADOS |
ARTIGOS
SELECIONADOS |
ARTIGOS EXCLUÍDOS | ARTIGOS
SEMELHANTES |
ARTIGOS TOTAIS |
BVS | 100 | 23 | 14
|
1
|
08 |
SciELO
|
33 | 17 | 10 | 1 | 06
|
TOTAL
|
133 | 40 | 24 | 2 | 14 |
Fonte: autor, 2024.
Esta pesquisa foi analisada com base nos 14 artigos selecionados, sendo suas publicações efetuadas no período dos últimos 6 anos, ou seja, dentre os anos de 2019, 2020, 2021, 2022, 2023 e 2024. Aos respectivos 08 artigos da base de dados da BVS avaliados, 02 são em inglês, no qual foi preciso ser traduzido para português para melhor entendimento do conteúdo e 06 estão em português. Quanto aos 06 artigos avaliados da base de dados da SciELO, 02 artigos estão em inglês e 04 artigos estão em português. A temática dos artigos em sua maioria relata acerca de fatores, prevalência e complicações da diabetes mellitus e o sistema cardiovascular, o impacto que a gestão e políticas públicas possui ante as doenças crônicas não transmissíveis.
(Tabela 2).
Tabela 2. Compilado dos artigos selecionados para revisão, de acordo com título, autores, ano de publicação, base de dados, idioma e temática
TÍTULO | AUTORES
|
ANO DE
PUBLICA ÇÃO |
BASE DE
DADOS |
IDIOMA | TEMÁTICA | ||||
Complicações por
Diabetes Mellitus no Brasil |
NEVES, G. R. et al. | 2023
|
SciELO | Português | Categorias e prevalências por complicações da diabetes mellitus. | ||||
Diabetes autorreferido e fatores associados na população adulta brasileira: Pesquisa
Nacional de Saúde, 2019
|
MALTA, D. C. et al. | 2022a | BVS | Português | Mudança de hábitos, prevenção e controle da DM e políticas públicas | ||||
Diabetes mellitus tipo 2: fatores relacionados com a adesão ao autocuidado | PORTELA, R.A. et al. | 2022 | SciELO | Português | Autocuidado e responsabilidades
do paciente com DM e HAS |
||||
Evaluation of
Electrocardiographic Ventricular Depolarization and Repolarization Variables in Type 1 Diabetes Mellitus
|
INANIR, M. et al. | 2020 | SciELO | Inglês | Marcadores eletrocardiográficos e arritmias em pacientes com diabetes mellitus tipo 1 | ||||
Fatores associados à procura de serviços médicos de emergência por pessoas com hipertensão e
diabetes
|
FERREIRA, P.C. et al. | 2022 | Scielo | Português | Condicionantes de saúde e atendimento emergencial por diabetes mellitus e hipertensão arterial | ||||
Health education to prevent chronic diabetes mellitus complications in
primary carea
|
SALCI, M.A. et al. | 2019 | SciELO
|
Inglês | Abordagem
sociocultural, autocuidado do paciente o equipe multidisciplinar |
||||
Indicators of the line of care for people with diabetes in Brazil: National
Health Survey 2013 and 2019
|
MALTA, D.C. et al. | 2022b | BVS | Inglês | Aumento de casos de diabetes mellitus em adultos | ||||
Influência do sono e da crononutrição na hipertensão e diabetes: um estudo de base
populacional
|
QUADRA, M. R. et al. | 2022 | BVS | Português | Qualidade do sono, hábitos alimentares e crononutrição | ||||
Papel do Jejum
Intermitente e da Dieta Restrita em Carboidratos na Prevenção de Doenças Cardiovasculares em Pacientes PréDiabéticos
|
KHALFALLAH,
M. et al. |
2023 | SciELO | Português | Benefícios do jejum intermitente e da dieta low carb no combate e controle da DM e HAS | ||||
Perfil bioquímico de usuários diabéticos e hipertensos vinculados a Atenção Primária à Saúde.
|
MELO, G. R. N. et al. | 2023 | BVS | Português | Alterações metabólicas e desequilíbrio no organismo | ||||
Perfil das internações por diabetes mellitus e hipertensão arterial sistêmica: um
estudo descritivo
|
CARLOS A. L. F. et al. | 2023 | BVS | Português | Políticas públicas, saúde e prevenção da doença. | ||||
Prevalence of noncommunicable chronic diseases: arterial hypertension, diabetes mellitus, and associated risk factors in longlived
elderly people
|
SILVA, A. M. et al. | 2023 | BVS | Inglês | Prevalências da diabetes mellitus e hipertensão arterial em idosos no Brasil | ||||
Prevalência de hipertensão arterial e diabetes mellitus no estado de goiás: há uniformidade entre as fontes de informação?
|
ISAAC, I. G. M.
A. et al. |
2023 | BVS | Português | Base de dados diferindo nos resultados e gestão e planejamento dados | ||||
Relações entre os atributos de qualidade de atenção aos usuários hipertensos e diabéticos na Estratégia Saúde da Família e o controle dos fatores prognósticos de complicações.
|
FONTBONNE, A. et al. | 2019 | SciELO
|
Português | Estratégia Saúde da Família (ESF), qualidade de atenção à saúde | ||||
Fonte: autor, 2024.
Pode-se identificar nos estudos, que níveis de desigualdade socioeconômicas e educacionais também influenciam e estão relacionadas às complicações nas doenças cardiovasculares e no diabetes mellitus, como por exemplo: indivíduos com menor nível educacional e de renda apresentam maiores taxas. De acordo com Neves et al. (2023) pessoas sem instrução formal tinham 30% mais risco de complicações em comparação com aquelas com ensino superior completo. A prevalência de complicações pelo diabetes mellitus foi especialmente mais elevada entre os menos favorecidos economicamente, com destaque para problemas de visão (30,6%), complicações renais (9,7%) e infarto ou AVC (6,4%). No tocante a idosos, o estudo mostra uma alta prevalência de hipertensão e diabetes mellitus entre brasileiros com 80 anos ou mais. Cerca de 50% desses idosos relataram hipertensão, enquanto aproximadamente 20% relataram diabetes mellitus. Os dados também destacaram que as mulheres idosas tendem a apresentar maior prevalência de hipertensão, outras condições crônicas (Silva et al. 2023).
A prevalência de adultos diagnosticados com diabetes aumentou de 6,2% em 2013 para 7,7% em 2019. Houve também uma redução na proporção de pessoas que nunca mediram a glicemia, caindo de 11,6% para 6,2% entre esses anos, o que indica uma melhoria no monitoramento da doença. Além disso, o estudo constatou um aumento no uso de medicamentos entre os portadores de diabetes, passando de 80,2% em 2013 para 88,8% em 2019. A assistência médica também se tornou mais frequente, com 79,1% dos diabéticos tendo recebido acompanhamento em 2019, comparado a 73,2% em 2013. No entanto, os pacientes têm encontrado desafios no que se diz respeito ao acesso a medicamentos pelo programa “Aqui Tem Farmácia Popular” (programa do Ministério da Saúde) diminuiu seu percentual de medicamentos subsidiados caindo de 57,4% para 51,5% (Malta et al. 2022a).
A diabetes mellitus e a hipertensão arterial sistêmica são doenças que necessitam de uma atenção especial, tanto devido a sua alta prevalência quanto ao impacto no que se refere as internações e as complicações em que estão associadas. O alto índice de diabéticos que desenvolvem hipertensão arterial, demonstra a necessidade do desenvolvimento de políticas públicas que articulem melhor forma de cuidados, como por exemplo: acompanhamento contínuo desses pacientes para reduzir as complicações. Programas de educação em saúde e medidas preventivas, incentivo à prática de atividade física e controle alimentar, são fundamentais para diminuir as taxas de internação. O estudo relata que a maioria das internações por diabetes mellitus ocorre em indivíduos acima de 60 anos, e que em sua maioria são mulheres. Sugerindo que o envelhecimento populacional e o maior risco dessas doenças se dão em idades avançadas (Carlos et al. 2023).
Segundo Ferreira et al. (2022), são muitos os fatores que se diz respeito à procura de serviços médicos de emergência por pessoas com diabetes mellitus e hipertensão arterial. Em geral, são condições crônicas e podem ser administradas de forma ambulatorial, mas a pesquisa indica é que certos fatores aumentam o risco da procura por serviço emergencial. Os principais fatores referidos na pesquisa são: crises hipertensivas, crises de hiperglicemia ou hipoglicemia, indivíduos que têm dificuldade em aderir ao tratamento ou controlar suas condições devido a fatores econômicos, educacionais, falta de acesso regular a serviços de saúde de atenção primária. Tudo isso leva os pacientes a utilizarem o serviço emergencial como primeira opção, assim como os fatores socioeconômicos e demográficos, comorbidades (presença de outras doenças, como insuficiência cardíaca e doenças renais, agrava a condição de pacientes hipertensos e diabéticos, aumentando o risco de necessidade de cuidados emergenciais e falta de suporte familiar ou social, os pacientes que não possuem apoio, têm menos condições de gerenciar suas doenças de forma eficaz. Melo et al. (2023) elaborou uma pesquisa, na qual utilizou dois grupos: um grupo de indivíduos com diagnóstico de diabetes mellitus e um outro grupo com diagnóstico de diabetes mellitus e hipertensão arterial. Ele relatou em seus estudos que o grupo com diabetes mellitus teve níveis mais elevados quando se diz respeito a ureia, creatinina, HDL (colesterol bom) e hemoglobina. Já o grupo com diabetes mellitus e hipertensão arterial apresentou alterações significativas capacidade de filtração renal. Esses níveis alterados são indicadores de que o organismo pode estar em desequilíbrio, fazendo com que os trabalhem deforma ineficaz. No tocante a indivíduos com condições crônicas como a DM e HAS, o risco de problemas renais aumenta.
Em um estudo efetuado no estado de Goiás percebeu-se uma diferença exorbitante no que se diz respeito aos dados referente a diabetes mellitus e hipertensão arterial no estado, foi averiguado os dados de duas fontes, como: Levantamento de Hipertensão e Diabetes Mellitus do estado de Goiás referente ao ano de 2021 (LHD) e o banco de dados da Estratégia e-SUS Atenção Básica (e-SUS AB). As pesquisas revelaram importantes diferenças em seus resultados, como por exemplo: a prevalência de diabetes mellitus e hipertensão arterial possuiu uma variação em um percentual de 46,56% e 27%, entre as fontes. E em mais da metade dos municípios, houve divergências que superaram os 50% entre as doenças. As causas apontadas para essas divergências incluem variados fatores, tais como: problemas técnicos, duplicidade de registros e qualidade dos dados fornecidos. Ou seja, o estudo conclui que a falta de padronização e organização nos registros dificulta ações de vigilância e até mesmo de planejamento em saúde, neste caso o estudo sugere uma uniformização na coleta e gestão de dados, afim de fortalecer a atenção básica e a vigilância de doenças crônicas no estado (Isaac et al. 2023).
Quadra et al. (2022) efetuou uma pesquisa com cerca de 820 indivíduos com idade de 18 anos acima, no qual foi realizado em 2019. Nesse estudo ele avaliou a relação entre os hábitos alimentares, qualidade do sono associados à crononutrição e as prevalências de hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus em adultos. De acordo com sua pesquisa foi observado que indivíduos com sono de má qualidade apresentaram 33% mais prevalência de diabetes mellitus e 17% mais de hipertensão em comparação aos que relataram boa qualidade de sono. Ou seja, possuir um sono de boa qualidade reduz o risco de adquirir DM e HAS. No tocante aos hábitos alimentares, aos que realizaram 4 ou mais refeições diárias tiveram uma prevalência menor de hipertensão em comparação aos que faziam menos refeições. Neste caso, o estudo reforça a ideia de que a má qualidade do sono e padrões alimentares inadequados, estão associados a doenças metabólicas e cardiovasculares. Esses resultados denotam a importância de intervenções públicas na promoção da qualidade do sono e hábitos alimentares saudáveis, afim de prevenir e controlar as doenças como diabetes mellitus e hipertensão arterial sistêmica.
Já estudos efetuados utilizando dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 denotou que 7,7% dos adultos se declararam ser diabéticos. Foram utilizados fatores como: idade avançada, localização, estilo de vida e entendimento sobre auto avaliação de saúde. Esses achados destacam a relação entre o diabetes mellitus e o envelhecimento, fatores demográficos, morbidades e estilo de vida. É um estudo em que reforça a importância de políticas públicas que promovam prevenção e controle, com foco principal em mudanças comportamentais, como prática de atividade física e alimentação saudável (Malta et al. 2022b).
A pesquisa elaborada por Khalfallah et al. (2023), aborda assuntos relacionados à dieta restrita em carboidratos e jejum intermitente e demonstram que são estratégias promissoras para a prevenção de doenças cardiovasculares em pacientes pré-diabéticos. Essas dietas atuam diretamente no objetivo da redução do índice glicêmico, combatendo a inflamação crônica e melhorando os resultados de gorduras no sangue, no qual são efetuados através de exames de sangue como: colesterol total, colesterol LDL e HDL, triglicerídeos. Portanto, recomenda-se que essas abordagens sejam realizadas de forma individualizada, pois cada indivíduo possui suas especificidades. Afim de maximizar os benefícios e minimizar os riscos. O estudo avalia que o jejum intermitente melhora a sensibilidade à insulina, reduz os níveis de glicose em jejum, reduz os níveis de triglicerídeos e LDL (colesterol ruim). A dieta restrita em carboidratos reduz a glicemia, melhora o perfil lipídico, promove aumento HDL (colesterol bom), diminui a gordura visceral e promove um efeito anti-inflamatório no organismo. Assim sendo, essa abordagem traz ao indivíduo uma melhor qualidade de vida e é também uma ferramenta de prevenção e controle das doenças como DM e HAS.
O estudo feito por Inanir et al. (2020) analisa os marcadores eletrocardiográficos associados a arritmias em pacientes com diabetes mellitus tipo 1 (DM1). O estudo foi efetuado com uma totalidade de 46 pacientes com DM1 e 46 pacientes saudáveis. Foram medidos parâmetros como intervalos QT, QTc, QTd, QTdc, Tp-e, JT, e JTc, além das razões Tp-e/QT e Tp-e/QTc. Foi verificado que os pacientes com DM1, tiveram seus resultados elevados em comparação aos pacientes saudáveis. Sugerindo assim que esses pacientes com índices elevados, possuem maior risco de serem acometidos por arritmias e morte súbita. Os estudos destacam acerca da importância do monitoramento e do manejo rigoroso do DM1 para diminuir as complicações cardíacas graves, contribuindo assim para a melhor compreensão dos mecanismos envolvidos no risco aumentado de eventos cardiovasculares nesses pacientes.
A qualidade da atenção prestada aos pacientes com hipertensão arterial e diabetes mellitus na Estratégia Saúde da Família (ESF) impacta diretamente no controle de fatores que podem levar a futuras complicações. Fatores como a qualidade de atenção à saúde, o controle da pressão arterial em hipertensos, controle glicêmico em diabéticos, prevenção e fatores de risco como obesidade e sedentarismo. A ineficiência no controle de fatores de risco em hipertensos e diabéticos está diretamente relacionado ao aumento de eventos cardiovasculares, como acidente vascular cerebral e infarto agudo do miocárdio. Sendo assim, é de suma importância estabelecer estratégias que fortaleça a ESF, principalmente em áreas mais vulneráveis, promovendo melhorias na infraestrutura, capacitação profissional para garantir um melhor cuidado (Fontbonne et al. 2019). De acordo com estudo realizado por Salci et al. (2019) a abordagem mais eficaz é a no modo sociocultural, que é uma abordagem focada na realidade do paciente e baseada em assuntos que promovam a reflexão e a ação. A ideia é que os pacientes reconheçam seu papel no autocuidado, enquanto os profissionais de saúde, as equipes multidisciplinares, se organizem para oferecer suporte contínuo e personalizado.
O autocuidado entre pessoas com diabetes mellitus do tipo 2 se dá por vários fatores, como: a monitorização de glicose, a administração de medicamentos, prática de atividades físicas e a adoção de hábitos alimentares saudáveis. Portela et al. (2022) relata em sua pesquisa que o público avaliado teve mais dificuldade de aderir ao monitoramento de da glicemia, a atividade física e a dietas. Tendo mais facilidade em aderir o uso de medicamentos e cuidados relacionados aos pés. Este achado sugere que o público avaliado “remediar ao invés de prevenir”. Porém, a pesquisa também identificou que fatores como faixa etária, nível educacional, acompanhamento nutricional tiveram associações relevantes com a adesão ao autocuidado. Em indivíduos jovens e com complicações do diabetes apresentaram maior dificuldade em aderir a prática de exercício físico, e quanto aqueles que tiveram acompanhamento nutricional houve mais facilidade em aderir à dieta e controle de peso.
4. CONCLUSÃO
O diabetes mellitus é um dos fatores principais de risco para doenças cardiovasculares, ela contribui para o aumento da morbidade e mortalidade relacionadas a doença. Tem influência de forma direta e indireta quanto ao desenvolvimento de condições como aterosclerose, Acidente Vascular Cerebral (AVC), hipertensão arterial, insuficiência cardíaca e infarto do miocárdio. Os fatores associados incluem alterações como: inflamação crônica, disfunções metabólicas, alteração endotelial, hiperglicemia crônica e aumento do estresse endotelial, são fatores significativos que comprometem de forma progressiva o sistema cardiovascular.
O controle e a prevenção das complicações da doença necessitam de uma abordagem multidisciplinar que incluem: mudanças no estilo de vida, prática de atividade física, dietas alimentares, controle dos índices glicêmicos, tratamentos dos fatores de risco que estão associados a hipertensão, dislipidemia e obesidade. Necessitando assim, força de vontade do indivíduo para aderir mudanças hábitos, pois são estratégias que impactam diretamente em suas atividades de vida diária. Dado o alto índice do diabetes mellitus e sua relevante relação nas complicações cardiovasculares, o diagnóstico precoce e a observação adequada da glicemia, são fatores fundamentais para minimizar a morbidade e a mortalidade. É necessário investir em estratégias preventivas, educação em saúde e tratamentos que reduzam o impacto dessa condição na saúde da população e melhore a qualidade de vida dos pacientes.
Entretanto, ainda há muitos desafios pela frente. A variação e instabilidade nos resultados dos estudos revisados direciona para a necessidade de mais pesquisas que abordem a influência de situações individuais, como: gênero, idade e duração da doença, nos desfechos cardiovasculares de pacientes diabéticos.
Por fim, faz-se necessário estudos mais específicos acerca da compreensão das interações entre a diabetes mellitus e as doenças relacionadas ao sistema cardiovascular, que venham contribuir para o desenvolvimento de abordagens terapêuticas ainda mais eficientes e que atua de forma individual.
REFERÊNCIAS
CARLOS, A. L. et al. Perfil das internações por diabetes mellitus e hipertensão arterial sistêmica: um estudo descritivo. Nursing (Edição Brasileira), v. 26, n. 302, p. 9810-9816, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.36489/nursing.2023v26i302p9810-9816. Acesso em: 05 nov 2024.
FERREIRA, P. C. et al. Fatores associados à procura de serviços médicos de emergência por pessoas com hipertensão e diabetes. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 76, n. 2, e20220147, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2022-0147pt. Acesso em: 06 nov 2024.
FONTBONNE, A. et al. Relações entre os atributos de qualidade de atenção aos usuários hipertensos e diabéticos na Estratégia Saúde da Família e o controle dos fatores prognósticos de complicações. Cadernos Saúde Coletiva, v. 26, n. 4, p. 418424, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1414-462X201800040208. Acesso em: 02 nov 2024.
INANIR, M. et al. Evaluation of Electrocardiographic Ventricular Depolarization and Repolarization Variables in Type 1 Diabetes Mellitus. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 114, n. 2, p. 275-280, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.36660/abc.20180343. Acesso em: 14 nov 2024.
ISAAC, I. G. M. A. et al. Prevalência de hipertensão arterial e diabetes mellitus no estado de goiás: há uniformidade entre as fontes de informação? Revista Científica da Escola Estadual de Saúde Pública Goiás “Cândido Santiago”, v. 9, n. 9c7, p. 1-11, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.22491/2447-3405.2023.V9.9c77. Acesso em: 09 nov 2024.
KHALFALLAH, M. et al. Papel do Jejum Intermitente e da Dieta Restrita em Carboidratos na Prevenção de Doenças Cardiovasculares em Pacientes PréDiabéticos. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 120, n. 4, e20220606, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.36660/abc.20220606. Acesso em: 03 nov 2024.
MALTA, D. C. et al. Diabetes autorreferido e fatores associados na população adulta brasileira: Pesquisa Nacional de Saúde, 2019. Ciência & Saúde Coletiva, v. 27, n. 7, p. 2643-2653, 2022a. Disponível em: https://doi.org/10.1590/141381232022277.02572022. Acesso em: 07 nov 2024.
MALTA, D. C. et al. Indicators of the line of care for people with diabetes in Brazil: National Health Survey 2013 and 2019. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 31, n. spe1, e2021382, 2022b. Disponível em: https://doi.org/10.1590/SS22379622202200011.especial. Acesso em: 09 nov 2024.
MELO, G. R. N. et al. Perfil bioquímico de usuários diabéticos e hipertensos vinculados a Atenção Primária à Saúde. Medicina (Ribeirão Preto), v. 56, n. 1, e202897, 2023. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rmrp/article/view/202897. Acesso em: 08 nov 2024.
NEVES, R. G. et al. Complicações por diabetes mellitus no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva no Brasil, v. 28, n. 11, p. 3183-3190, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1413-812320232811.11882022. Acesso em: 30 out 2024.
NUNES, L. B. et al. Avaliação do programa comportamental em diabetes mellitus tipo 2: ensaio clínico randomizado. Ciência & Saúde Coletiva, v. 28, p. 851–862, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1413-81232023283.10102022. Acesso em: 23 out 2024.
OPAS – Organização Pan-Americana da Saúde. OMS lança novo pacto global para acelerar ações de combate à diabetes. OPAS, 2021. Disponível em: https://www.paho.org/pt/noticias/15-4-2021-oms-lanca-novo-pacto-global-paraacelerar-acoes-combate-diabetes. Acesso em: 12 dez 2024.
PORTELA, R. A. et al. Diabetes mellitus tipo 2: fatores relacionados com a adesão ao autocuidado. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 75, n. 04, e20210260, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2021-0260. Acesso em 17 nov 2024.
QUADRA, M. R. et al. Influência do sono e da crononutrição na hipertensão e diabetes: um estudo de base populacional. Cad. Saúde Pública, v. 38, n. 7, e00291021, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0102-311xpt2910211. Acesso em: 12 nov 2024.
ROSSANEIS, M. A. et al. Fatores associados ao controle glicêmico de pessoas com diabetes mellitus. Ciência & Saúde Coletiva, v. 24, p. 997–1005, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1413-81232018243.02022017. Acesso em: 24 out 2024.
SALCI, M.A. et al. Health education to prevent chronic diabetes mellitus complications in primary carea. Escola Anna Nery, v. 22, n. 1, e20170262, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2017-0262. Acesso em: 12 nov 2024.
SILVA, A. M. et al. Prevalence of non-communicable chronic diseases: arterial hypertension, diabetes mellitus, and associated risk factors in long-lived elderly people. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 76, n. 4, e20220592, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0034-71672022-0592. Acesso em: 25 out 2024.
NOTA
Os autores utilizaram a Inteligência Artificial (Extensões/suplementos de correção gramatical no Word. Microsoft Word 2016 MSOv(16.0.4266.1001) 64 bits) para correção gramatical. No entanto, todas as buscas pelos conteúdos e classificação da qualidade dos artigos foram realizadas de maneira autoral.
[1] Discente no curso de Fisioterapia – Faculdade Ages. Graduada em Administração – Faculdade Anhanguera. ORCID: 0009-0007-6018-0532. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7393610191771687.
[2] Orientador. Mestre em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental – PPGECOH UNEB. Pós-graduado em Saúde do Trabalhador pela Faculdade Educamais. Graduado em Fisioterapia pela Universidade de Pernambuco – UPE. ORCID: 0009-0007-3470-2544. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2750906868188268.
[3] Co-orientadora. Pós-graduada em Pilates pela Faculdade Montessoriano. Graduada em Fisioterapia pela Faculdade UNIJORGE. ORCID: 0009-0003-7359-7821. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2750906868188268.
Material recebido: 26 de novembro de 2024.
Material aprovado pelos pares: 27 de dezembro de 2024.
Material editado aprovado pelos autores: 19 de março de 2025.